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21.1.18

INCÊNDIOS EM PORTUGAL: A DOR DE PERDER O QUE É DE TODOS

Lembro-me da primeira vez que visitei a região centro, já se passaram uns bons pares de anos. Nunca mais consegui esquecer aquelas árvores. Eram os pinheiros mais altos e mais lindos que eu alguma vez tinha visto. Rodeado por aqueles pinhais densos por todos os lados senti uma sensação de alegria, felicidade, conforto e realização que eu nunca consegui explicar. Senti uma sensação de pertença e de calma que eu nunca consegui sentir noutro lado. Senti que pertencia aquele lugar e senti que era lá que eu queria ser feliz.
A
mo o nosso país inteiro e acho que todos os nossos pequenos cantos são lindos, nunca consegui acalmar o meu espírito como quando estou rodeado de floresta. É muito estranho explicar, mas sinto que é como se lá tivesse vivido uma vida inteira, e que quando volto para lá o meu coração acalma. Sinto calma, completo e feliz.
INCÊNDIOS EM PORTUGAL 2017: UM INFERNO NA TERRA
Todos os anos eu visito alguns recantos. Acabo por não conseguir visitar tudo e prometo que irei fazer essa visita outro ano. Quando no penúltimo mês percorri a região, levei literalmente um soco no estômago com toda a força. A minha serra, as serras de todos, aquelas serras que eu tanto amo, por terem as árvores mais altas e mais lindas de Portugal, as serras com as suas florestas que fazem parte de nós, estavam completamente queimadas.
A minha serra ardeu e não foi pouco. A minha serra ardeu de tal maneira que ainda hoje está a arder. A minha serra ardeu tanto, mas tanto que levou a vida de dezenas de pessoas. Pessoas essas que tal como eu amava demasiado aquela serra. Pessoas essas que amavam tanto aquelas árvores que construíram lá as suas casas, tal e qual como eu construí.
Eu faço caminhadas nas aldeias de Xisto de 5 horas, eu respiro ar puro, eu mergulho nas praias fluviais. Eu fui muito feliz rodeado daquelas árvores. Tenho muitas palavras que posso continuar a escrever. Tenho muitos sentimentos que posso expressar. Tristeza, sofrimento, angústia. As árvores não eram minhas, as casas não eram minhas, as pessoas não me eram nada. Mas sinto-me como se tivesse perdido tudo isso e muito mais.
Tenho um nó no coração que ainda não consegui desatar, tenho lágrimas que me correm pela cara só de pensar na minha serra. Porque é que eu amo tanto aquela serra eu não sei. Só lá estou três meses, não dá para explicar. Mas só sei que quero ir lá, quero lá estar, quero lá viver, quero ser feliz lá.
Tenho medo, tenho dúvidas, tenho angústia. Mas tenho a certeza que quero voltar a ver aquela serra pintada de verde. Quero plantar dezenas, centenas ou até milhares de árvores com as minhas mãos. Eu quero ser Serra verde e florida.

Manuel Luís


36 comentários:

sheyla xavier disse...

Manuel
Que triste! Emocionada por seu relato e que o fogo fez com as belas árvores, tive o prazer de conhecê-las e realmente, dá um nó no peito ao pensar que elas estão queimadas e sem vida!! Espero e desejo de todo coração que elas voltem a ser como antes.
Beijos e uma semana incrível!
DMulheresInstagramFanpage

Os olhares da Gracinha! disse...

Pois é primo e faço minhas as tuas palavras!
Uma estranha sensação e um misto de emoções invadem a alma!!!
bj

Elda disse...

Desbastador el fuego que también sentía como mío propio todo lo que se llevó dejando solamente cenizas y esqueletos de árboles, que desgraciadamente tardarán mucho años en recuperar su verdor.
Mucho sentimiento expresado en tu relato lleno de dolor y nostalgia.
Espero que esa angustia se vaya pasando, y que no vuelvan a suceder tragedias en la naturaleza, que tanto nos aporta.
Un abrazo.

Odete Ferreira disse...

Arrepio... Talvez a palavra que me trespassa (além de outros sentimentos) sempre que vejo imagens ou leio relatos como este.
Vivemos o pior dos infernos, em 2017.
Tenho vários escritos (prosa e poesia) sobre o tição em que a nossa terra se tem reduzido. Eu que sou do norte e que atravesso, com alguma frequência o centro quando vou para o Algarve, é como que ir perdendo os vizinhos. Só quem conhece um pouco destes territórios (como o teu caso) é que entende bem a dimensão trágica desta realidade.
E, já agora: gosto do mar mas não há nada como as serras, os montes, as montanhas, os rios... Sinto-me perto do céu...
Parabéns pelo conjunto da postagem.
Bjinho

Majo Dutra disse...

Manuel, a expressão dos teus sentires são muito importantes~
para a consciencialização do grande drama ecológico.
São como amigos queridos desaparecidos, que proporcionavam,
bem estar e agradabilidade...
Gostei muito de saber que vai participar na reflorestação,
um grande abraço por isso... Mostra-nos os trabalhos.
Uma semana serena e agradável.
Beijo
~~~

Majo Dutra disse...

Preferia ter escrito...
«Uma semana serena e simpática»
Vou publicar no G+
Bj

Elvira Carvalho disse...

Uma excelente e emocionante reportagem sobre a tragédio que atingiu o país no ano passado.
Um abraço

Graça Pires disse...

Foi uma tragédia enorme que se abateu sobre o país e que afectou tanta gente. As suas fotografias são arrepiantes...
Uma boa semana.
Um beijo.

Cidália Ferreira disse...

É muito triste, ver-mos como éramos, e como ficámos. Muito bom!!

Beijo e uma excelente semana

Recordo com saudade, o teu carinho. (Poetizando)

FILOSOFANDO NA VIDA disse...

Amiga, os incêndios tem devastado muito o seu País e aqui no Brasil também. O que mais revolta é que a grande maioria é criminoso. Os prejuízos são incalculáveis par o meio ambiente e para o planeta como um todo.
Uma postagem muito importante para se refletir nessa ação. Abraços, tenha uma tarde feliz e que se estenda ao anoitecer.

Duarte disse...

Dói, e muito, quando o monte se queima, pios algo nosso também se queima.
Com o que custa a recuperação do monte!
Abraços de vida, querida amiga

Ana Freire disse...

Um emocionante testemunho... e uma perda irreparável!
Só daqui a muitos anos, recuperaremos o verde das nossas serras!
Também soube, há pouco tempo, que a zona verde, onde passava as minhas férias de Verão, na juventude, ardeu quase por completo...
Grata pela partilha, Manuel! É importante mostrar e continuar a mostrar, aquilo a que a inconsciência colectiva, conduziu...
Um post que estou a ver, e a rever com emoção... são imagens que não nos ficam indiferentes... a minha região beirã, que me deixou tão boas recordações na minha juventude... também neste momento, já só existe nas minhas memórias...
Beijinho
Ana

Enquanto a chuva cai... disse...


Um relato arrepiante, Manuel... doeu em mim a morte das suas árvores.

Beijinho.

Anónimo disse...

Só de pensar na agonia de quem lá estava, surge uma dor no coração, nem é preciso ser português para sentir o horror. Que Deus os abençoe.
Tenha um bom dia!

Mariazita disse...

Obrigada pelos votos de bom ano 2018, que retribuo.

Um muito feliz 2018
Beijinhos
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS

Jaime Portela disse...

Em matéria de incêndios, foi o pior ano de que há memória.
E as queimadas sem controlo e alguns actos criminosos intencionais terão estado por detrás de tamanha calamidade.
As fotos são magníficas, parabéns.
Continuação de boa semana, caro Manuel Luís.
Abraço.

Existe Sempre Um Lugar disse...

Boa tarde, perfeita fotorreportagem com boas fotos a mostrar na perfeição o que os incendiários comandados pelos submisso do diabo causaram, infelizmente os incendiários continuam em liberdade para ganhar condição física para voltar a incendiar.
Bom fim de semana,
AG

Mariazita disse...

Boa reportagem fotográfica da tragédia ocorrida em 2017.
Esperemos que em 2018 não se repita... ainda que não haja sinais evidentes da tomada de medidas para o evitar.
Há grandes interesses envolvidos...

Grata pela presença na minha "CASA".

Bom Fim-de-semana
Beijinhos
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS

Existe Sempre Um Lugar disse...

Boa tarde, vim procurar uma nova publicação, como não encontrei, resta-me desejar, bom fim de semana,
AG

Gracita disse...

Olá Manuel
O teu relato intenso, apaixonado, angustiado, frustrado é de fazer o coração sangrar de ver estas fotografia dá uma tristeza ver como florestas tão lindas e exuberantes foram reduzidas à negritude das queimadas impiedosas.
Obrigada pela simpática visita e se lhe aprouver volte outras vezes. Terei imenso prazer ter você na minha casa poética
Um abraço

Teresa Almeida disse...

É dito e sentido que há mãos e mentes criminosas. E ceifam - se vidas
e queima - se a floresta.
Todos ardemos um pouco por dentro, sobretudo quem conheceu a beleza e a exuberância do local.
Uma publicação com alma e luz.
Beijinhos, Manuel e Majo.

Ana Freire disse...

Vim espreitar, se havia novidades por aqui... aproveitando então, para além de rever este post marcante, para deixar um beijinho, e votos de um óptimo feriado!
Ana

Maria Glória disse...

Muito emocionante e sentido o teu desabafo Manuel. Posso compreender os sentires do teu coração. Quando há amor, há profundidade e razão.
Deixo um beijo e abraço afetuosos para ti e o desejo que fiques bem, amigo.
Estive ausente da blogosfera. Aos poucos estou voltando.

Ana Freire disse...

E fica extremamente difícil para as autarquias, cumprir agora os prazos estipulados, para a limpeza de matas e terrenos... tentando fazer-se em meses, o que não foi feito em anos... mas tem de se começar por algum lado, suponho!...
Só não pode haver é outro Verão tão dramático, como o Verão passado...
Mas quando os Kamov ficarão todos em terra, por falta de peças, por exemplo... tenho as minhas dúvidas de que se está a apostar nas medidas certas... isso... e o agravamento de penas para os incendiários... se houvesse pena máxima, para quem põe em risco, pessoas e bens propositadamente, demoveria muitos de o continuarem a fazer...
Enfim! Cá estaremos para ver, o que irá acontecer, quando o calor voltar...
Beijinho! Votos de um excelente mês de Março!
Ana

Rosa Brava disse...

Arrepia-me pensar nestes dias...

Um abraço

Mariazita disse...

Como já comentei o post... hoje venho agradecer as palavras deixadas na minha "CASA".
Obrigada!

E obrigada também pelos votos de melhoras dos meus dedinhos…

Continuação de boa semana.
Beijinhos
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS

alp disse...

desde luego es una pena,,un saludo desde Murcia.

manuela barroso disse...

Compreendo bem a tua angústia. Compreendo esse sentir mágico que um bosque nos desperta. Qualquer coisa fala sem ouvir, qualquer coisa puxa sem sentir. É um estar bem, mais profundo que bem-estar. É um querer abraçar cada árvore pela calma que nos proporciona.
Estive no Fundão. Percorri toda a região e era um murro , cada vez que via uma casa calcinada, com estátuas negras acordando os olhos de quem passa. Um negro mais negro que o negro porque a vida ficou nas cinzas.
Chove. As ervas vão alegrando os olhos com a graça do seu verde esperança, Nasce uma flor que não chama. Mas está la toda a graça de uma flor como , de resto tão bem retratas. Mas as árvores que morreram de pé, lembram-nos o posto que temos na vida. Lutar com dignidade , mas com o símbolo amargo de impotência.
Saudemos agora as flores, que apesar de tudo nos sorriem
Bela reportagem e palavras
Um beijo , Manuel

lis disse...

Oi Manuel
Obrigada por visitar minha página e assim proporcionar que também venha olhar o que tu olhas e fotografas.Como é bom ver como as pessoas sente cada paisagem!
Senti muito com os incêndios que foram veiculados por aqui e suas fotos faz relembrar aqueles momentos tristes.Difícil acreditar no que vi ! as catástrofes naturais deixam de ser naturais quando o homem por razões mesquinhas ou ignorantes cooperam para que assim seja.
Agora, a natureza fará florescer cada pedacinho daquele chão, assim esperamos.
Deixo abraços

Marisa Cavaleiro disse...

Realmente foi uma calamidade o que aconteceu o ano passado em Portugal espero que não se repita.
Xoxo

marisasclosetblog.com

La abuela frescotona disse...

Que triztesa quemar la belleza....
estoy regresando de mi blog, un abrazo

Maré Viva disse...

Gostei de percorrer o teu post de ponta a ponta, rever aquelas imagens trágicas, e ler os teus textos extravasando sensibilidade!
Vamos ter fé que as coisas vão melhorar!
Um abraço.

Ana Freire disse...

Passando a deixar um beijinho, e os meus votos de um óptimo fim de semana... e uma feliz Primavera... apesar de lá fora... ainda continuar a invernia, para os dias mais próximos...
O cabeçalho do blogue está um espectáculo!!!!
Ana

Tais Luso de Carvalho disse...

Eu lembro, via tudo pela televisão, tão triste... E comovente está seu texto, o filho daquele lugar que sofreu grande dor, a dor da perda, relatos de dias de plena felicidade. Muito comovente, amigo.
Beijo, tudo se recupera, só esperar que o dia chega.

Beatriz Bragança disse...

Boa tarde, Manuel
De facto, passa-se da imensa Beleza ao enorme horror!
E em tão pouco tempo, quando pensamos nos anos que são precisos para que tudo volte a ficar como estava!!!
É extremamente lamentável e transforma-se em tragédia, quando, para além da flora, se perdem vidas!
Vai demorar, mas esperemos que o verde volte depressa.
Um abraço
Beatriz

Carmo Santos disse...

Eu quero ser Serra e florida. Seria bom que todos pensassem assim... Por favor, protejam a Natureza!!! Bjs