Lembro-me da primeira vez que
visitei a região centro, já se passaram uns bons pares de anos. Nunca mais
consegui esquecer aquelas árvores. Eram os pinheiros mais altos e mais lindos
que eu alguma vez tinha visto. Rodeado por aqueles pinhais densos por todos os
lados senti uma sensação de alegria, felicidade, conforto e realização que eu
nunca consegui explicar. Senti uma sensação de pertença e de calma que eu nunca
consegui sentir noutro lado. Senti que pertencia aquele lugar e senti que era
lá que eu queria ser feliz.
mo o nosso país inteiro
e acho que todos os nossos pequenos cantos são lindos, nunca consegui acalmar o
meu espírito como quando estou rodeado de floresta. É muito estranho explicar,
mas sinto que é como se lá tivesse vivido uma vida inteira, e que quando volto
para lá o meu coração acalma. Sinto calma, completo e feliz.
A
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INCÊNDIOS EM PORTUGAL 2017:
UM INFERNO NA TERRA
Todos os anos eu visito
alguns recantos. Acabo por não conseguir visitar tudo e prometo que irei fazer
essa visita outro ano. Quando no penúltimo mês percorri a região, levei literalmente
um soco no estômago com toda a força. A minha serra, as serras de todos, aquelas
serras que eu tanto amo, por terem as árvores mais altas e mais lindas de
Portugal, as serras com as suas florestas que fazem parte de nós, estavam
completamente queimadas.
A minha serra ardeu e não foi
pouco. A minha serra ardeu de tal maneira que ainda hoje está a arder. A minha
serra ardeu tanto, mas tanto que levou a vida de dezenas de pessoas. Pessoas
essas que tal como eu amava demasiado aquela serra. Pessoas essas que amavam
tanto aquelas árvores que construíram lá as suas casas, tal e qual como eu construí.
Eu faço caminhadas nas
aldeias de Xisto de 5 horas, eu respiro ar puro, eu mergulho nas praias
fluviais. Eu fui muito feliz rodeado daquelas árvores. Tenho muitas palavras
que posso continuar a escrever. Tenho muitos sentimentos que posso expressar.
Tristeza, sofrimento, angústia. As árvores não eram minhas, as casas não eram
minhas, as pessoas não me eram nada. Mas sinto-me como se tivesse perdido tudo
isso e muito mais.
Tenho um nó no coração que ainda não consegui desatar, tenho lágrimas
que me correm pela cara só de pensar na minha serra. Porque é que eu amo tanto
aquela serra eu não sei. Só lá estou três meses, não dá para explicar. Mas só
sei que quero ir lá, quero lá estar, quero lá viver, quero ser feliz lá.
Tenho medo, tenho dúvidas,
tenho angústia. Mas tenho a certeza que quero voltar a ver aquela serra pintada
de verde. Quero plantar dezenas, centenas ou até milhares de árvores com as
minhas mãos. Eu quero ser Serra verde e florida.
Manuel
Luís