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25.8.18

The Shadows - Riders In The Sky

Recordo aqui os tempos em que prestei provas numa rádio pirata sediada na garagem da casa do Quim Paulo, no planalto do Bié, com um projecto de mostrarmos as vozes a quem estivesse por casa “o som ia da garagem por fios”. Ouvir o “som da garagem” aos sábados à tarde era um ritual, um acto religioso. Antes preparavam-se as cassetes, preferencialmente de crómio, para assegurar a melhor qualidade sonora possível (havia que reservar uma suplente para que não se perdesse um só momento do programa). Minutos antes já a cassete aguardava no deck da aparelhagem o início do “som da garagem”. Os botões “play”, “rec” e “pause” ficavam pressionados, aguardando os primeiros sons do fabuloso «Sony» (muitos anos mais tarde substituído por «emissor de ondas curtas», oferecido). Depois das apresentações os acordos do grupo The Shadows, Riders In The Sky (mais tarde) e especialmente o compositor,Stan Jones para a grande sala. Não havia melhor tema para genérico do programa. Ouvir aquele 1’42” de puro virtuosismo arrepiava-nos da cabeça ao pés (ainda hoje o faz), mergulhando-nos bem fundo no maravilhoso universo da musica. Findo o genérico soltava-se o botão “pause” e entrávamos noutra dimensão, sob o mote “vamos ver o que se passa lá dentro de casa”. Gravávamos todo o programa e ouvíamos vezes sem conta. Obviamente reproduzíamos para os amigos, que repetiam o ritual de nos ouvir, impulsionando-nos para melhorar as vozes a uma velocidade vertiginosa. A vozes dos ouvintes também era gravada. Fazê-lo não era perder espaço na cassete, era ganhar em paixão. Cada sílaba, cada frase era voluptuosamente assimilada. Ouvir com atenção àquelas vozes quase hipnóticas, potentíssimas, “quentes”, “cheias” e envolventes transmitia-nos uma sensação de poder, de excitação, fazendo-nos sonhar em possuir semelhante dom. A professora de canto coral também ajudou.
Recordo aqui todos os que fizeram parte destes belos momentos.